Por Francis Ivanovich:
O mito de Narciso explica muito o fenômeno do Instagram. É um espelho invertido para fora. A necessidade obssessiva de ser admirado, belo, mostrar ao mundo que a vida que levamos é plena.
É uma ferramenta impressionante o Instagram, nos aprisionou ao espelho de rolagem infinita. Ele, de certa forma, decretou o fim do anonimato.
Por vezes, me pego rolando suas postagens: um conselho de um desses “sábios” de plantão; uma cena do cotidiando do casamento; a família reunida; o casal apaixonado; a jogada de mestre do Messi; um acidente fatal; um disco voador; uma receita de culinária; uma notícia; uma eternidade de situações inusitadas que nos deixam de boca aberta.
De repente, apago a tela, concluo que a vida não se revela verdadeiramente no Instagram. Parece uma constatação óbvia, até bobagem, porém, ela é bem menos simples.
Na verdade o que está por detrás de cada sorriso, ato, gesto, cena no Instagram é muito mais do que vemos. É o medo da finitude.
Não suportamos o fim do que julgamos ser prazeroso, único, que nos tire do desespero diante da finitude. A existência real com seus enfadonhos compromissos, escolhas, decisões nos aniquilam. Mostram toda a nossa fragilidade, impotência, insignificância. E perguntamos, que sentido tem tudo isso?
O genial escritor Kafka, autor de A Metamorfose, escreveu algo que resume bem o nosso drama em que o Instagram atua como anestésico: ” O Sentido da vida é que ela termina”. Encarar isto não é nada fácil.
O Instagram, assim como outros aplicativos do gênero, são como, mal comparando, ao elixir da vida eterna, um lugar que nos dá lugar e sentido no mundo contemporâneo, mesmo que não haja sentido algum.
Não critico mais quem se dedica a passar horas nesse universo digital, quem sou eu?, compreendo perfeitamente a nossa inerente necessidade de se sentir vivo, presente, aceito, admirado, amado, eterno, jamais sozinhos. Merecemos ser importantes. Abraçados
Ao mesmo tempo, tenho uma sugestão a você que lê este singelo texto, sem pretensão, tire um momento para se ver frente a frente a um bom livro. Aquele secular tijolinho feito de papel impresso com letras. Ele é também um espelho, só que virado para dentro.
Você experimentará um aparente silêncio, mas repleto de vozes, ideias, descobertas sobre si mesmo. Acabará se vendo verdadeiramente, e isso é muito importante. E aí, você começa a ficar mais consciente de Ser, como é cansativo fingir o que não se É de verdade, que viver é um ato de coragem para não ser o que nos exigem ser.
Porque Ser é muito mais do que parecer Ser, como uma postagem no Instagram. Ser é de fato a arte do encontro real consigo mesmo e com o outro. É aceitar a diferença e estar disposto ao diálogo, abandonando o monólogo. É realmente ter uma rolagem infinita na alma, capaz de fazer você se conectar e trocar com a vida.
Criar um mundo paralelo, isolado, fictício é função da arte.
Esse papo vai longe… paro por aqui.
Bom dia!
