Por Francis Ivanovich:

Bom dia, um cafezinho, por favor!
Começar o dia com esta companhia líquida em tempos líquidos, um despertar cafeína, quando o sol se derrama sobre a toalha do cotidiano. Não consigo conceber o mundo sem este filho de África, lá pelas bandas da Etiópia, que foi cultivado (educado) na Arábia, batizado de Kaweh, planta também conhecida como de Kahwah, que quer dizer força.
O café para mim é como o cabelo de Sansão, a força para iniciar a luta, e sem café eu sou mais uma vítima da tesoura de Dalila, cambaleando pelas horas, o raciocínio lento e as obrigações ficam amargas.
Sempre apreciei ao estar pelo centro da cidade parar estrategicamente para um bom cafezinho. O cheiro do café ganhando a calçada, vencendo os odores das ruas, atraindo a gente pro balcão de mármore, a xícara branca fervida, o beijo no pires e a bebida sorvida na língua oculta das palavras.
Café é sentido, silêncio, reflexão. O café é irmão da boa prosa, primo dos livros, pai das ideias. Se eu não bebo um cafezinho a minha alma reclama, é como andar por um deserto feito de sal.
Por favor, café sem açúcar, sentir sua pureza, seu idioma, sua música descendo pela garganta, pousando no pensamento agora desperto, com asas em grãos.
Enquanto escrevo esta crônica, sorvo aos poucos o precioso elixir negro a revivescer as esperanças que nos últimos tempos foram pisoteadas pelo veneno.
Ah! um café da manhã com quem se ama, com quem se gosta, com quem se faz negócios, com quem se debate ideias ou procura saídas.
Um dos trabalhos mais interessantes, que exerci na juventude, foi ser promotor de vendas do Hotel São Francisco, na Visconde de Inhaúma, no Centro do Rio, hoje fechado.
Uma das minhas tarefas era recepcionar clientes para o café da manhã, antes que eu lhes mostrasse a qualidade dos nossos serviços, como um bom quarto para hospedagem, a sala para eventos corporativos. Lá estava o café a alegrar a conversa, quebrando o gelo dos interesses comerciais.
Outra experiência que fiz questão de realizar foi sentar-me sozinho num café parisiense, lendo um bom livro e escrever, observando a cidade. Não podia deixar de imitar essa experiência aparentemente simples dos franceses, mas a coisa para eles é bem séria.
Em Portugal, principalmente nas aldeias do interior, o café exerce uma função social importante. A vida da comunidade passa por ali com seus conflitos e alegrias regada a café curto, entre outras bebidas. Não é por acaso que Portugal é um dos 20 países que mais bebe cafezinho no mundo.
O Brasil ama o café que, nos últimos tempos, se tornou um produto de luxo na mesa do brasileiro, de tão caro que ficou. Mesmo assim, o Brasil é o segundo consumidor global de café, consome cerca de 21,5 milhões de sacas de 60 kg por ano, segundo pesquisa divulgada pela Associação Brasileira do Café – ABIC.
Agora vou pegar mais um cafezinho, na minha caneca favorita. Desejo excelente domingo, café puro ou com leite, pão na chapa com manteiga ou queijo; assim a vida fica mais saborosa, e a gente não dorme no ponto.