Por Francis Ivanovich:
Esta manhã, ao olhar o calendário digital, acho que não existem mais calendários de papel pendurados na parede, me dei conta que é primeiro de abril, o dia da mentira ou dos bobos. Sou um bobo, não tenho dúvidas.
A mentira sempre foi um tema que me atraiu. (serei eu também um mentiroso?) Em 2010, publiquei o Contador de Mentiras, a história de um contabilista chamado Severo Pena que tem na mentira uma aliada perigosa, quem tiver paciência para lê-lo, basta baixar o PDF ao final deste texto.
A origem deste dia está na política, sempre ela – essa ciência moral normativa a pautar nossas vidas. O dia surgiu quando o Rei francês Carlos IX ordenou que o ano novo passasse a ser comemorado em primeiro de janeiro, de acordo com o novo calendário gregoriano, isso em 1564.
No entanto, como sabemos, os franceses não são muito afeitos à ordens, principalmente calados; muitos deles recusaram a determinação real e simplesmente continuaram a comemorar o ano novo de acordo com o velho calendário, em primeiro de abril.
A gente sabe que um dos talentos humanos é ridicularizar o outro, os que não concordam com a gente. O fato foi prato cheio para os zombadores franceses, que ao saberem que alguém comemorava o ano novo em primeiro de abril, enviava lembrancinhas maldosas, além de convites fictícios para festas que não aconteceriam, criando grandes embaraços e raiva nos que sofriam as plaisanteries, como ficaram conhecidas essas picardias do calendário.
No Brasil, acreditem – não é mentira – foi uma Fake News imperial que detonou o dia da mentira, em primeiro de abril de 1828. Anunciaram num jornaleco da época que o nosso Dom Juan – Dom Pedro I – havia batido as botas, vejam só. Como podemos ver, a coisa vem de longe. Agora, em pleno século 21, temos de aturar um Pinóquio a bater ponto diariamente, a inventar “verdades”, como a que em seu desgoverno não existe corrupção. O dia da mentira é para rir ou chorar?.
Tomando café, pensei o seguinte, a mentira é uma “verdade” inventada. Essa “verdade” que é uma mentira, cria para o mentiroso um ambiente real que o possibilita a transitar com mais desenvoltura, menos culpa, na estrada que irá percorrer, a fim de realizar o que deseja.
Freud escreveu que “o sonho é a satisfação de que o desejo se realize”. Eu diria mais, com a devida licença ao gênio Freud: mentir é uma espécie de sonhar acordado, um estado onírico de olhos abertos, onde a realidade é fantasiada, disfarçada, a fim de que nossos desejos e objetivos sejam atendidos de alguma forma, nos livrando da frustração. Um mentiroso compulsivo certamente possui em si mesmo um altíssimo grau de frustração e vazio.
Todos nós já mentimos. Desde uma mentirinha tola até uma mentira de maior porte. A mentira pode causar grande dor. Por vezes, mentimos para não causar dor, no entanto, essa receita desanda, não funciona. A mentira é como fermento, só faz crescer o bolo da mágoa.
Creio que é melhor ouvirmos a mais dura verdade do que a mais branda mentira. Buda disse que “uma mentira pode salvar seu presente, mas condena seu futuro”. Considero esta ideia um tesouro, uma VERDADE.
Para terminar, peço perdão aos que menti; aos que me enganaram, vou tentando perdoa-los; o perdão é uma verdade sublime que para ser alcançada demanda tempo e força.
Neste primeiro de abril de 2022, quando vivemos tempos de muitas mentiras, quando a verdade se revela um dos bens mais valiosos, e por isso não é fácil encontra-la em qualquer esquina, que a gente consiga ter uma relação mais verdadeira com o nosso semelhante, essa prática na política seria fundamental.
Por fim, felizes os que buscam a verdade, pois a mentira não se busca, ela vem ao nosso encontro, e é preciso estar muito atento para não sermos aprisionados por ela. A mentira pode ser a nossa ruína.
Abaixo o PDF gratuito de O Contador de Mentiras, novela de Francis Ivanovich, 2010: