
O último café da manhã de 2021 não poderia ter sido melhor. Reencontro após 10 anos, Rodrigo Brand, para um café com leite e misto quente no pão francês, bem quentinhos. O dia chuvoso, a padaria bem iluminada de tortas, massas e sonhos. Na minha frente o amigo, o ator e escritor que hoje mora em Los Angeles, que veio ao Rio matar saudades e lançar seu “Desditas Cariocas”, livro de contos inspirado no universo de Nelson Rodrigues, com Sacha Rodrigues e prefácio de Moacyr Góes.
Brand me presenteia seu livro e escreve uma dedicatória que me faz pensar: “Para o amigo… e grande inspiração”.
Inspirar alguém é algo que eu jamais poderia esperar, mas se o fiz, significa que minha vida já valeu à pena. O verbo inspirar significa exercer ou sofrer influência animadora; entusiasmar(-se), arrebatar(-se); estimular, com beleza, encanto, virtudes. Se minha existência afetou o querido Rodrigo Brand desta forma, eu não poderia ganhar maior presente ao findar o difícil 2021.
O queijo quente, no pão francês, escorria pelos olhos do Rodrigo, como lágrimas de reminiscências, tamanha a saudade dos costumes cariocas. “Lá não tem isso como aqui, Fran”.
Foi um delicioso café da manhã, com boa prosa que passou pela literatura, cinema, teatro, política (como evitá-la?); as mazelas que temos de conviver.
Falamos das ilusões juvenis de conquistar o mundo; sua chegada aos EUA, a vida difícil de estrangeiro que precisa se virar, lavar pratos, dobrar toalhas.
Sempre observei o jovem e desafiador Rodrigo, sua inquietação intelectual e artística. Ele foi meu ator em algumas de minhas peças, durante os anos 2000, quando chegou ao Rio, vindo do Espírito Santo.
Hoje vejo um homem feito, um artista de verdade, casado, vivendo nos EUA como cidadão livre que conquista a cada dia seu espaço. Está consciente sobre seu papel no mundo. Rodrigo Brand já ultrapassou a linha que divide os sonhadores dos realizadores. Vai queimar muita lenha ainda, certamente terá o seu lugar.
Outro dia minha neta Nalu, de 5 anos, cantarolou uma canção popular que não tem nada a ver com seu universo infantil. Expliquei-lhe que a música não era adequada e muito menos boa. Ela me respondeu que a música era famosa. Disse-lhe que a fama não significa qualidade, que há muita coisa famosa que desaparecerá com o tempo. Ela pareceu entender, pois passou a cantarolar uma canção eterna, Cai Cai Balão. A mesma canção infantil que o Rodrigo Brand executava ao cavaquinho, na minha peça infantil Andersen Lobato, em cena há muitos anos, aliás peça que dediquei à mãe da Nalu, a Victória.
O Rodrigo já entendeu, depois de provar o fel de Los Angeles, a meca do cinema americano, que muitas ilusões cercam o mundo da arte. A fama é uma delas. Uma das mais nocivas, pois nos leva à inútil vaidade. O Rodrigo já entendeu que a arte não tem a ver com fama, sucesso, dinheiro, mas com a VERDADE (mesmo a desditas).
Quando a verdade está em nós, nada nos desviará do nosso autêntico destino. Aí sim, você estará pronto para ser um artista ou o que quiser nesta vida. Pode viver modestamente, mas se sentirá feliz ao fazer o que ama.
Abraço, vá em frente Rodrigo Brand!