Nalu e as crianças em 2073

Nalu escreve seu nome na areia do futuro.

*Por Francis Ivanovich.

Neste 12 de outubro de 2021, quando se comemora o dia das crianças, penso em Nalu, minha neta, e em todas as crianças deste mundo. Hoje ela tem 5 anos, quando tiver a minha idade, 58 anos, será o ano de 2073. Eu certamente nem serei mais lembrança, aliás já me sinto bem esquecido, e talvez eu me torne algum vestígio empoeirado de pixels, dentro de um HD externo que não concebo a tecnologia.

Nalu e as crianças, que praticamente nasceram na pandemia de 2020-21, serão adultos bem diferentes de nós, não tenho dúvida. Fico curioso sobre o mundo que viverão em 2073. Faço um esforço para imaginá-lo, me disfarço de um Júlio Verne sem talento e um Nostradamus meia-pataca do vaticínio:

Os automóveis, como os conhecemos, esses caramujos que soltam fumaça, não existirão mais. Serão movidos por uma energia limpa e voarão para todo o lado. Vejo Nalu, com seus 58 anos, talvez segurando a mão de sua neta, esperando na rua o taxi-voador, sem motorista; a porta abrindo-se e o painel lhe desejando boa viagem e um obrigado pela preferência. (Podem mudar as máquinas, mas as leis do comércio são eternas).

Chegam à casa, a neta de Nalu reclamando estar com fome, a casa inteligente pergunta a Nalu se passou bem o dia; Nalu responde, com delicadeza: Foi um bom dia, casa! Veja quem veio nos visitar!

A casa responderá com alegria, abrindo a porta da sala: seja bem vinda neta de Nalu! A neta responderá irritada: Eu tenho nome, dona casa, me chamo Helena. (As casas poderão ter vida própria, mas as crianças sempre dirão o que pensam).

Na cozinha do futuro, Nalu ordenou a geladeira descongelar imediatamente um dos pratos preferidos da neta Helena, batata-frita. A geladeira obedecerá e exibirá em sua porta, numa espécie de tela, todo o processo, sem contar que além de ser geladeira, ela é também um fogão com forno. (Poderão as geladeiras serem inteligentes, mas em qualquer época as crianças sempre gostarão de batatas-fritas).

Após comerem batata-frita, Nalu dirá para sua neta que é hora do banho, mas Helena reclamará que gostaria de ver um episódio da sua personagem favorita. A avó permitirá, porque os tempos passarão e os avós sempre farão a vontade dos netos, e de repente surgirá diante de Helena, em holograma, no meio da sala da casa inteligente, a personagem que ela gosta, interagindo, pedindo ajuda nas aventuras.

Após o episódio e o banho no tempo certo, porque a água custa muito cara no futuro, Helena estará brincando de boneca. (Os personagens infantis poderão andar pela casa do futuro, mas as meninas jamais deixarão de brincar de bonecas, talvez fabricadas com um material que não agrida o meio ambiente).

Ao final do dia, Nalu levará Helena para seu quarto, pois é hora de dormir. A cama inteligente, que se adapta a qualquer tipo de corpo, tomará a forma de uma concha, acolhendo confortavelmente Helena; em seguida, o teto do quarto ficará transparente, permitindo ver o espaço com seus satélites e astros.

Helena pedirá a Nalu para ler uma história, a história da princesa Rapunzel com seus cabelos tão longos. Uma tela surgirá diante delas, um livro de luz flutuante, onde imagens e texto da história tão antiga serão exibidos. (Poderão os livros serem de luz, mas as crianças sempre gostarão de ouvir histórias).

Helena dormirá tranquilamente, Nalu ordenará a casa a apagar a luz, controlar a temperatura e avisar se algo de anormal acontecer durante o sono da neta. A casa informará até as batistas cardíacas de Helena. Nalu também dormirá tranquilamente.

Neste mundo que elas vivem, em 2073, não existe mais criança abandonada, explorada, agredida, sem escola e com fome. Helena, a neta de Nalu, assim como todas as crianças, vive em paz num mundo que finalmente entendeu que é um só.

Ao despertarem, será 12 de outubro de 2073. Dia da criança no Brasil, finalmente um país que cuida e respeita todas as crianças, sejam elas brancas, negras ou indígenas. É o que desejo para Nalu e sua neta Helena.

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