O velho da lata de aveia Quaker

*Por Francis Ivanovich.

Larry, o velho da lata da aveia Quaker.


Foi nesta manhã de quinta-feira, ao ir ao supermercado, comprar pão e leite, que me deparei com a lata da aveia Quaker, que não conhecia. A lata da aveia Quaker destacava-se no alto da prateleira, no corredor das aveias, farinhas e fibras alimentares. Fiquei paralisado. O velho da aveia Quaker me observava. Vou aqui revelar um segredo. Eu tenho medo do velho da aveia Quaker. Desde menino. Sonhei muitas vezes com ele, com seu chapéu característico, os cabelos brancos escorrendo sobre os ombros, sua roupa de um azul-marinho formal, o lenço branco em volta do pescoço, saindo pelo peito como uma gravata exagerada, e o seu sorriso discretamente sarcástico, que parece debochar de mim. Sem contar a sobrancelha direita mais elevada do que a esquerda, um mal sinal.

De onde vem nossos medos? De onde vem o meu temor por este senhor que estampa as latas e caixas da aveia Quaker? Freud, se estivesse vivo, teria em mim um bom material de estudo; Jung então, iria criar nova obra, que talvez tivesse o seguinte título: Novos Estudos do inconsciente Coletivo Quaker.

Sem dúvida, é uma questão a ser levada para o analista.

Acho que foi na peça teatral a “História do Homem Que Ouvia Mozart e da Moça do Lado que Ouve o Homem”, que escrevi há tempos, peça teatral que fez sucesso nos festivais de Curitiba e Porto Alegre em Cena, em 2011, com direção de Luiz Antônio Rocha, que falei pela primeira vez sobre esse meu medo, publicamente. O personagem da peça diz ter medo do velho da aveia Quaker, recordo isso agora.

Fui pesquisar no site da Quaker a origem desse velho estampado nas latas e nas caixas, a fim de encontrar alguma pista do meu curioso trauma. Descubro que a coisa é antiga. No site diz que em 1877, Henry Seymour e William Heston fundam a Quaker Mill Company, em Ravenna, Ohio. Pioneiros na indústria, registam a marca Quaker no instituto de patentes dos Estados Unidos, convertendo-se na primeira marca de cereais para o pequeno-almoço do país.

Será que em vidas passadas fui funcionário da fábrica e de tanto ver aveia, tanto comer aveia fiquei traumatizado? 

Brincadeiras à parte, continuei fuçando por pistas. Em 1881, Henry Parsons Crowell compra o moinho Quaker e o seu ativo mais importante: o nome da marca. Um ano depois, 1882, a Quaker lança nos Estados Unidos a primeira campanha publicitária em revistas a nível nacional de uma marca de cereais para o pequeno-almoço.

Primeira publicidade da aveia Quaker:
Larry surge na embalagem

Vejam a foto acima, arte da primeira campanha em 1882, e lá está o tal velho que se chama Larry. De repente, reparo na arte e fico estarrecido. Noto o adolescente largado sobre o sofá, de franjas, aparentemente entediado, sob a estampa do velho Quaker Larry. Vocês não vão acreditar. O jovem se parece comigo na minha adolescência! Quando eu tinha franjas e cabelos e até me diziam que eu tinha cara de padre!

Paro por aqui. Não encontro respostas, pelo contrário, estou com mais dúvidas sobre a origem do meu temor toda vez que vejo Larry nas latas e nas caixas de aveia. O curioso é que eu adoro aveia. Dizem que faz muito bem para a saúde.

O Grito, Edvard Munch.

A verdade é que os nossos medos têm origens em nosso inconsciente, em alguma experiência passada. Na história da arte encontramos artistas que expressaram o medo em suas obras, como um dos meus pintores favoritos, o norueguês Edvard Munch, autor de um quadro muito famoso, O Grito, de 1893. Munch sempre retratou em suas obras a solidão, melancolia, a ansiedade e o medo.

Ao deixar o supermercado, voltei para casa, fiz meu café, sentei à mesa e escrevi sobre Larry, o velho da lata da aveia Quaker. A arte salva.

*Francis Ivanovich é jornalista, cineasta, autor e tem medo do velho da aveia Quaker.

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