Parabéns Coltrane!

por Francis Ivanovich

No último dia 23 de setembro, há poucos dias, foi aniversário de alguém muito especial em minha vida, John Coltrane. Peço desculpas ao mestre Coltrane, onde estiver, a falha indesculpável. O pedido de perdão se justifica pelo simples fato de que sua música me faz tão bem, que nem consigo descrever os efeitos deste remédio na minha alma.

Já escrevi, acho que este ano, que sou viciado em Coltrane. Ouço-o todos os dias.  O curioso é que descobri Coltrane há pouco tempo, em setembro de 2020, em plena pandemia, quando produzi e dirigi o baterista argentino Roberto Rutigliano e quarteto, num belíssimo show gravado no Solar de Botafogo, para o Jazz Online, que contou com a participação de alguns dos melhores músicos da cena do jazz carioca: Adaury Mothé teclado, Zé Luis Maia contrabaixo, José Arimatéa trompete. Roberto Rutigliano estava na bateria e na direção musical, além da presença mais que especial de Luana Mallet, voz. Até então, eu desconhecia Coltrane, confesso minha ignorância. 

O jazz para mim sempre foi uma música distante, porque eu a associava a um certo gosto elitista. Sem dúvida, era uma tremenda estupidez minha. Voltando ao mestre, ele me ajudou num dos momentos mais difíceis da minha passagem aqui por esta terra. Quando contraí o vírus, este que a gente está cansado de dizer o nome e aqui me recuso a falar nele, Coltrane associado aos cuidados que eu recebi no hospital foi fundamental para a minha recuperação. E olha que eu quase parti dessa para a melhor, meus pulmões estavam 75% comprometidos. Ouvi-lo dia e noite, com sua música divina, foi minha literal salvação.

Acho que foi Roberto Rutigliano que me contou que o Carlos Santana toda vez que está na estrada, ao hospedar-se num hotel, liga seu aparelho e inunda o quarto com a música de Coltrane a fim de purificar o ambiente. Não sei se vocês sabem, mas Coltrane até uma igreja possui dedicada a ele nos EUA.  

A história é a seguinte, um sujeito chamado Franzo King e sua esposa tiveram suas vidas transformadas pela música de John Coltrane, depois de ver uma apresentação num clube em São Francisco. Eles ficaram tão impressionados que decidiram fundar a Igreja Ortodoxa Santo John Coltrane. Alguns podem achar um exagero essa ideia, pode até ser, mas sinceramente eu prefiro um templo dedicado ao divino músico do que essas que estão por aí enganando o povo, com esses diabos disfarçados de anjos. A igreja de Santo Coltrane existe há mais de 40 anos, fica em Los Angeles.

Coltrane não era um santo na acepção da palavra, era um homem normal, humano, como outro qualquer, com qualidade e defeitos, mas possuía dentro de si algo muito raro, que só encontramos em pessoas realmente especiais, que só pode ser explicado por uma força suprema. E eu senti os efeitos de sua música em minha saúde no hospital. Coltrane tem algo de divino. Não por acaso ele criou A Love Supre (O Amor Supremo), em 1964-65, influenciado pelas religiões africanas e asiáticas, que é um dos discos mais importantes da história da música.

Obrigado mestre por sua música. Você ajudou a salvar minha vida. Sua obra nos lembra sobre quanta beleza um ser humano tem a capacidade de criar. Quando alguém cria algo realmente belo toca o divino e a gente se afasta das bestas que andam por aí atormentando o nosso mundo.

Parabéns John Coltrane, não preciso dedicar muitos anos de vida, você é eterno.

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